O mundo da tradução pode ser um lugar confuso, especialmente se você é quem faz a compra em nome da sua empresa. Muitos compradores de serviços de tradução e localização sentem o mesmo quando você leva seu carro ao mecânico. Como você realmente sabe o que está acontecendo por baixo do capô? Afinal, se você não fala o idioma para o qual está traduzindo algo, como você pode medir a qualidade da tradução e responsabilizar seus fornecedores?
Como resultado desse fenômeno, muitos consumidores de tradução recorrem a táticas que podem parecer lógicas para eles, mas que na verdade podem atrapalhar a garantia da melhor qualidade. Aqui estão dez equívocos generalizados relacionados à tradução que podem, na verdade, fazer mais mal do que bem:
• Mito #1: Maior é sempre melhor. Às vezes, as pessoas pensam que comprar tradução de uma grande agência lhes trará uma melhor qualidade de serviço. Afinal, se uma empresa de tradução tem milhares de tradutores e lida com centenas de idiomas, isso tem que ser um sinal de qualidade, certo? Não necessariamente. Os generalistas nem sempre são melhores do que os especialistas. Se você está procurando tradução para apenas um idioma ou em um setor especializado, talvez seja melhor trabalhar com uma pequena agência ou com um tradutor freelancer profissional. As grandes agências têm seu papel — geralmente no suporte a grandes clientes que gastam centenas de milhares de dólares em tradução. Assim como uma minivan pode não ser o carro ideal para uma única pessoa sem filhos, grandes fornecedores definitivamente não são a melhor solução para cada tipo de projeto.
• Mito #2: Tudo que eu preciso é de um tradutor. Até mesmo os melhores escritores confiam em editores, revisores e outros para fazer seu trabalho sair da página. Da mesma forma, um processo de tradução profissional geralmente envolve várias partes. Você não só precisa de um profissional para traduzir o conteúdo, mas, como nas tarefas de redação monolíngue, geralmente é necessário que haja um editor que possa revisá-lo. Você pode até precisar de um revisor separado e de alguém para garantir a formatação adequada. Trabalhar diretamente com tradutores autônomos é uma boa estratégia para certos tipos de projetos, e muitos freelancers podem recomendar revisores para garantir que um segundo par de olhos verifique seu trabalho. No entanto, quando os projetos são mais complexos, envolvendo vários idiomas, tipos de conteúdo ou formatos de arquivo, uma agência geralmente é a melhor solução.
• Mito #3: Mais tradutores resultarão em melhor qualidade. Com o tempo, os tradutores se familiarizam intimamente com os estilos de escrita, o tom e as mensagens de seus clientes. Pense neles como motoristas que se familiarizam cada vez mais com a mesma rota e, portanto, podem dirigi-la com mais habilidade e rapidez. Os tradutores não são intercambiáveis. Geralmente, se o mesmo tradutor — ou o mesmo pequeno grupo de tradutores — não for usado repetidamente em projetos, a consistência começa a diminuir e as traduções realmente parecem ter vozes e estilos diferentes. Se você tem projetos recorrentes, certifique-se de trabalhar com uma equipe dedicada de pessoas que se familiarizem muito com seu conteúdo de origem, esteja você trabalhando com tradutores individuais ou com uma agência que os designa em seu nome.
• Mito #4: Colocar um fornecedor contra outro mantém a qualidade sob controle. Muitos compradores de tradução acham que estão sendo espertos ao pagar uma agência para traduzir seu conteúdo e pagar a outra agência para verificar se há erros em seu trabalho. Há várias razões pelas quais essa abordagem é uma receita para o fracasso. Primeiro, o foco da parte revisora se torna a “detecção de erros”. Para provar que estão fazendo um bom trabalho, eles geralmente sinalizam o máximo de “erros” que puderem encontrar, mesmo que, na verdade, muitas das mudanças que estão sugerindo sejam preferenciais. De fato, alguns fornecedores podem esperar que, se detectarem erros suficientes, sejam recompensados com o trabalho de tradução, que geralmente é mais bem remunerado do que o trabalho de controle de qualidade. Em segundo lugar, o cliente acaba passando muito tempo mediando entre as duas partes, e muitos “erros” se resumem à opinião de uma pessoa versus a de outra. Em terceiro lugar, todo o foco do processo se torna combativo em vez de colaborativo por natureza.
• Mito #5: Obter uma “retrotradução” garantirá qualidade. Muitas vezes, os consumidores de tradução acham que podem medir a qualidade fazendo um “teste cego”. Eles enviam um projeto para um fornecedor para tradução. Em seguida, eles enviam a tradução completa para um fornecedor separado, solicitando que a traduzam de volta para o idioma original. Por fim, eles comparam as duas versões para ver se elas são semelhantes. A suposição deles é que eles podem identificar erros comparando as versões. Na realidade, esse processo está fadado ao fracasso. Por quê? Porque os erros podem ser introduzidos a qualquer momento do processo. Se o provedor que está produzindo a “retrotradução” cometer um erro, de fato haverá uma diferença entre a fonte e a versão retrotraduzida, mas o cliente não poderá determinar a origem do erro. Assim como acontece com os motoristas do banco traseiro, as traduções traseiras geralmente são um incômodo a ser evitado.
• Mito #6: Funcionários bilíngues me fornecerão feedback útil e de qualidade. Muitos compradores de traduções acham que têm um atalho para medir a qualidade: basta pedir a um colega ou funcionário bilíngue que dê uma olhada. Na realidade, isso pode ser um pouco como pedir ao seu tio, que mexe com carros nas horas vagas, que verifique se o mecânico fez os reparos do automóvel corretamente. Seu tio sabe o suficiente para ser perigoso, mas seu feedback nem sempre é relevante ou útil. Também é improvável que ele seja um especialista em todas as áreas de conserto de automóveis. Da mesma forma, os tradutores são profissionais, enquanto os bilíngues são leigos. A única maneira de funcionários bilíngues fornecerem feedback útil sobre a qualidade da tradução é recebendo orientação explícita e focada sobre quais tipos de coisas procurar. Se eles simplesmente perguntarem: “Você pode ler isso e me dizer o que acha?” eles não estarão em condições de oferecer feedback de muito valor.
• Mito #7: O controle de qualidade da tradução funciona bem. Para a qualidade da tradução, o foco não precisa estar no controle de qualidade (verificação de erros), mas sim na melhoria da qualidade (produzir uma tradução melhor desde o início). Você gostaria de tirar um carro do estacionamento e devolvê-lo uma semana depois devido a defeitos do fabricante? Ou você prefere ter um ótimo carro desde o início? Há muitas maneiras de garantir uma boa tradução desde o início, mas a principal delas é fornecer aos tradutores e editores os recursos necessários para que eles possam entender o máximo de contexto possível para descobrir o verdadeiro objetivo da comunicação. Equipes de tradução equipadas com glossários, guias de estilo, materiais de apoio e informações contextuais podem produzir uma tradução de qualidade muito maior do que aquelas que acabaram de receber um texto sem fundo.
• Mito #8: Meu conteúdo de origem não tem impacto na qualidade. Uma grande porcentagem de “erros de tradução” se deve, na verdade, ao texto fonte que está mal escrito ou pouco claro. Considere a tradução como “pintura” — ela só pode fazer muito para esconder os arranhões e falhas do carro embaixo dela. Quando uma frase pode ser entendida de mais de uma maneira, o tradutor precisa fazer uma suposição fundamentada sobre o que o autor original pretendia. Normalmente, os tradutores nem mesmo têm a oportunidade de esclarecer com o autor do texto fonte para descobrir qual era a intenção por trás de um termo ambíguo. Eles confiam em suas habilidades de pesquisa e experiência profissional para tentar descobrir o significado pretendido, mas isso não é desejável e, obviamente, pode levar a uma tradução inadequada, mas não necessariamente devido a qualquer falha por parte do tradutor. A comunicação é uma via de mão dupla. Se a mensagem de origem não estiver clara, a tradução geralmente também não será.
• Mito #9: A tecnologia deve ser evitada. Muitos novatos no mundo da tradução pensam erroneamente que “tecnologia de tradução” se refere à tradução gerada por computador, como o Google Translate. Na verdade, a maioria dos tradutores profissionais usa ferramentas de software que incorporam a “memória de tradução”, um banco de dados de traduções anteriores. Assim como os mecânicos de automóveis de hoje usam software de alta tecnologia, os tradutores também usam ferramentas para garantir a consistência e acelerar seu trabalho. A memória de tradução também oferece outra vantagem: geralmente acaba economizando algum dinheiro para o comprador, porque significa que ele não precisa pagar para traduzir a mesma frase ou frase repetidamente. Em qualquer texto com muita repetição, as ferramentas de tradução são extremamente úteis para garantir qualidade e consistência. Além disso, essas ferramentas são difundidas entre os profissionais de tradução e estão em uso há muitas décadas.
• Mito #10: Quando você pede uma “tradução”, você recebe a mesma coisa de todos. Se você vir uma placa que diz “lava-jato”, isso significa que você passará por um lava-jato automático, para que apenas a parte externa do carro seja limpa? Uma camada de cera está incluída? O interior será aspirado? Os assentos serão limpos? Um “lava-jato” pode incluir muitas coisas diferentes, dependendo de quem o está fornecendo. Da mesma forma, com a “tradução”, uma variedade de coisas pode ou não ser incluída. Alguns fornecedores incluem um editor e revisor profissional diretamente no preço da tradução, enquanto outros não. Algumas empresas reformatarão seu documento de origem como parte da tarifa padrão, enquanto outras cobrarão mais por isso. A maioria dos provedores cobrará mais se seu projeto tiver um prazo de entrega rápido ou contiver conteúdo especializado. Além disso, as tarifas geralmente variam de um idioma para outro e até mesmo de uma direção para outra (o francês para o inglês pode ter um preço diferente do inglês para o francês), mesmo com o mesmo provedor.
A comida para viagem? Assim como medir a qualidade da escrita de alguém, a qualidade da tradução não é um tópico simples. Muitas vezes, é altamente subjetivo. Quem é o “melhor escritor”? A resposta varia, dependendo do gênero de escrita e até mesmo de quem é o leitor. E quem é o “melhor mecânico?” É difícil para um leigo julgar isso, mas o que ele pode avaliar são outras métricas de desempenho: como o carro funciona, quantas idas ao mecânico são necessárias, com que frequência ele quebra, com que rapidez eles conseguem colocar o carro em serviço e como são tratados como clientes. É muito mais difícil para o motorista comum entender diagnósticos técnicos e mecânicos complicados. O mesmo vale para a tradução — entender a qualidade em um nível profundo exige muito mais do que apenas proficiência em dois idiomas.
Na verdade, para não linguistas, às vezes o melhor indicador da qualidade da tradução não tem nada a ver com coisas como erros de digitação e ortografia. Do ponto de vista do comprador, a qualidade da tradução geralmente tem mais a ver com a prova real de uma boa tradução — os resultados que ela possibilita — na forma de maior reconhecimento da marca, mais clientes, mais visualizações de página, mais downloads e mais vendas.
*Conforme visto no Huffington Post